Um dia qualquer (21 de março)

Domindo embalado pelas baladas românticas do Cazuza; o amável som da chuva, interrompido diversas vezes por raios imponentes e por muitos lenços de papel (resfriado). É a primeira chuva de verdade de março, não que exista alguma de mentira, mas para a época, era de se esperar mais. É outono, o equinócio teve início ontem. A essa hora eu deveria estar dormindo, mas estou jogando caligrafia fora. Visto um confortável pijama cinza, cinza tal qual o céu cheio de novens carregadas da manhã tempestuosa, e cinza tal qual o meu humor. Não associe cinza a algo triste, eu vejo o cinza como uma cor neutra. Não é branco, que ao meu ver seria a paz de espírito, uma alegre nuvem de um céu de verão, uma bolinha macia de algodão. Também não é preto, o vazio, o incerto, escuro, tal qual o breu janela afora. Cinza é o meio termo, é a mistura entre os extremos, é somente cinza. Tenho pensamentos brancos, felizes; tenho pensamentos negros, tristes. Opto então por não pensar em nada, opto por manter-me neutra, ou então, adentraria a madrugada a remoer e a imaginar infinitas situações, a vagar por tortuosos caminhos pelos quais minha confusa mente me carrega e isso requer paciência, e tempo, e amanhã eu acordo cedo, para mais um dia rotineiro, comum, neutro, mais um dia cinza no ano.
S.M.S, Beija-Flor.