Brinquedos tortos


Uma garotinha brinca na praça em um ensolarado e agradável dia de primavera, não há ninguém ao seu lado mas ela tagarela e descorre sobre uma infinidade de fatos com o vento. De mão dadas com um ursinho com seu eterno sorriso, ela vai caminhando e conversando, parando para pegar flores, folhinhas, analisar insetos. Já não é mais o meu tempo de ter amigos imaginários, de conversar com os meus brinquedos. Um vazio imenso toma conta de mim, a carência já não é mais facilmente preenchida com uma boneca, imaginar um planeta só meu com unicórinios e fadinhas já não funciona, pelo menos, não pelo tempo desejável. Seja por uma questão biológica e/ou emocional, me sinto solitária. Eu invejo aquela garotinha baixinha e ruiva, ela parece tão feliz, nem se aproxima das outras crianças que correm em volta das árvores, ela está satisfeita. Eu acabo preenchendo o meu vazio enchendo os outros. Durante os anos que se passaram, meus ursinhos ficaram surdos.

When The Wind Blows


I'll leave when the wind blows
Take a breath and away it goes
I'll be outside of your window
I'll pass by but I'll go slow
I'll leave when the wind blows

Crime


Teus olhos atravessam a despreocupada multidão em busca dos meus, eu sinto isso. Não sei se isso deveria acontecer, mas eles encontram o alvo. Tiros certeiros de centenas de milhares de verbos, advérbios, muitas conjunções, reticências e interrogações conseguem me acertar a uma distância enorme. Como se estivéssemos cometendo um crime, e como se todos aqueles inocentes ao nosso redor pudessem testemunhar, ambos desviamos nossos olhares.