Em cima do telhado o ar é tão frio e tão calmo, eu digo o seu nome em silêncio, mas você não quer ouvi-lo agora. Os olhos da cidade estão contando as lágrimas que caem, cada lágrima é uma promessa de tudo que você nunca saberá.

Eu sou um aeroporto.

Na verdade, todos nós. Que outro lugar, senão um aeroporto, condensa sob o mesmo teto a alegria do encontro e a tristeza da despedida? Vejo pedaços de mim acima das nuvens, em logradouros distantes, em cidades inóspitas. Recebo, também, de todo lugar, pedaços do mundo que, como ímãs, aplicam-se sobre a minha pele e lá ficam para a posteridade, exibidos por onde passo.

Alguns têm a pista embrenhada entre matas, encoberta por nuvens de chuva, radares desligados ou intencionalmente sabotados. Tem gente que tem medo de avião.

Por medo das partidas, tem gente que não deixa ninguém chegar. São aeroportos fechados. No entanto, a gente só percebe o calor do abraço quando sente a dor de respirar o ar frio da solidão. Você brada aos céus toda sorte de impropérios, mas não percebe que vôo nenhum te encontra no radar.

Eu sou um aeroporto. Chegadas e partidas são a única certeza na minha vida. Meus olhos estão virados pro futuro, focados na estrada que se prostra à minha frente. Encontro em mim, com igual facilidade, motivos para persistência ou para desistência. E continuar pra quê? Continuo com a força do que levo pra vida. O saldo positivo disso tudo é a quantidade de aviões que acolho em meus hangares. Pedaços de histórias que conto pra mim mesmo todo dia, enquanto ergo um tímido sorriso quase que instantâneo de realização.

E você, aeroporto em greve, tá esperando o quê, olhando pra cima?

(Avião não pousa em aeroporto fechado)


Lucas Silveira.

Certa vez, me pediram para escrever algo sobre o amor, um dos desafios mais difíceis que já me fizeram. O amor não é algo fácil de se definir, ama-se justamente pelo que ele tem de tão indefinível. Sentimento que não obedece a razão, que ultrapassa limites, que move montanhas. Tamanha energia que você pode gerar dentro de si próprio, tão grande que não há medida que calcule suas dimensões. Tão simples, tão puro e tão complexo. Ama-se, somente isso. Me perguntaram também se eu já havia amado, eu disse que sim, e que o felizardo tinha apenas 3 anos. E ele não precisa fazer mais que estampar um gostoso sorriso no rosto para me deixar feliz. Isso é amor.